Peru Valente



Às vezes brincávamos com animais, incitando-os, açulando-os. 
Ficávamos à sua frente gesticulando com a mão espalmada num vai e vem enervante. 
Irritado, o animal investia contra quem o enfrentava. Preparava-se para a reação, contraia-se, entesava-se. Carranca voltada para o provocador, disparava em frenética carreira em direção do arreliento. 
Ai deste se não se tivesse os passos largos e lépidos! Receberia como revide marradas que poderiam ser mortais! 
Não havia valentes. Todos corriam e o animal ia no encalço. 
Era uma mini tourada ou “carneirada”. 
Entre as crianças era comum a “carneirada”. No caso foi, em verdade, uma “peruada”. 
Ensinamos a tática a um peru, que, bom discípulo, aprendeu a enfrentar quem o molestasse. 
Certo dia uma de minhas irmãs, Neuza, ainda pequenina, passou 
próximo a um peru e ele investiu contra ela, dominou-a, cobriu-a com suas asas e começou a bicá-la. 
Seus gritos propiciaram-lhe socorro. Tiraram-na das garras do animal, mas já estava ferida... 
A triste experiência serviu de exemplo para todos e a brincadeira só se repetiu tempos mais tarde, quando, mais crescidos, estávamos conscientes do perigo e dos meios de defesa.



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Imagem 32. Peru. Fonte: internet.


Imagem 33. Minha irmã Neuza. 
* 22.12.31 
† 04.03.93

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