Mui Amiga
Vicejavam também o mandacaru, o xiquexique e árvores da flora nordestina – o juazeiro, a viuvinha, o são joão, a umburana e ervas rasteiras como o mulungu, o cururú, o são caetano, a malva e outros que cobriam de verde toda a área.
Próximo estava o chiqueiro dos porcos, sombreado por uma grande viuvinha.
Num recanto do cercado, um homem labutava na dura tarefa de cavar o chão ressequido para fazer um sumidouro. O trabalho durava dias. O buraco estava com cerca de dois metros de profundidade.
Nós, crianças, gostávamos de vê-lo trabalhar. O suor escorria pelo rosto. De quando em vez parava por minutos para descansar.
Certo dia, lá estava Dete e sua companheira de travessuras, Belinha.
Brincavam perigosamente: empurravam-se mutuamente para o precipício.
O trabalhador advertiu-as dos riscos que corriam, do perigo de caírem no buraco. Pediu-lhes que se afastassem. Não atenderam. Persistiram no empurra-empurra.
Dete, de supetão, empurrou a amiga no abismo. Ela se estatelou no fundo do buraco. O baque da queda assustou o trabalhador que logo a socorreu.
Belinha clamava pela mãe. Seus gritos causaram reboliço.
Sua mãe, D. Maricas, atravessou a rua e, atordoada, foi socorrê-la. Com ela vieram filhos e curiosos.
Mamãe deixou, por momentos, seus alunos e correu ao quintal. Foi um “Deus nos acuda!”.
Enquanto isso, Dete, assustada, com medo da reprimenda, escapou de “fininho”. Fugitiva, em desabalada carreira, passou pela cozinha, pegou um torrão de açúcar e embarafrustou-se pelo longo corredor procurando o esconderijo mais seguro; escondeu-se, por sugestão de Sibilina, embaixo da cama, onde ficou acuada por longas horas até que o tempo “serenou”.
Enquanto foi “caçada” por todos os cantos, ela, no “bem bom”, deliciava-se com o torrão de açúcar preto.
Não foi localizada. Só Sibilina sabia do esconderijo, mas guardava segredo. De quando em vez, disfarçadamente, levava-lhe água e alguma gulodice.
Belinha carpia o susto e as dores. Estava traumatizada. Foi retirada da fossa pelo trabalhador através de uma escada.
Dete, sabida e manhosa, deixou passar a tormenta e apareceu desconfiada, temerosa de ser premiada com palmadas, o que, desta vez, não aconteceu.
Foi severamente repreendida.
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Imagem 33. Amiguinhas. Cartão postal antigo. Fonte: internet.
Imagem 33. Amiguinhas. Cartão postal antigo. Fonte: internet.
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