Minha Mãe
Poucas são as recordações que tenho de minha Mãe, pois faleceu
antes que eu completasse seis anos de idade.
Todos – eu e meus irmãos – éramos crianças. A mais velha tinha
oito anos e a caçula acabara de nascer, tinha 27 dias de vida. Éramos seis
ou!... Éramos 8 (com os pais).
Minha Mãe nasceu em 14 de junho de 1906, filha de Elias Marques
da Silva e de Mariana Borges Nonato Marques.
Era magra, franzina e de baixa estatura. Tinha a pele branca, os
olhos vivos e olhar expressivo.
Estudou em Salvador, foi interna no colégio religioso dos Perdões,
situado no bairro de Santo Antônio, além do Carmo. Formou-se em
professora.
Concluídos os estudos voltou a Queimadas; sua Mãe já havia faleci-
do, morou com seu pai e a madrasta, tia Milita, com quem meu avô Elias
se casou em segundas núpcias.
Meus pais eram primos em primeiro grau, casaram-se em
24/09/1925 e passaram a morar em uma imensa mansão conhecida
como Chalé.
Minha Mãe lecionava em sala que ficava em parte da ala esquerda
do Chalé, com entrada independente da nossa casa.
Sua classe era numerosa, constituía-se de alunos do 1º ao 5º ano
do curso primário. Dispensava-lhes atenção e afeto e por eles era esti-
mada.
Educava os filhos com amor e carinho, mas, quando necessário,
castigava-os com equilíbrio.
Ainda estudante e bem jovem discursou saudando Ruy Barbosa
em sua passagem por Queimadas, na campanha política pela disputa da
Presidência da República.Era mãe e professora dos filhos em tempo integral. Embevecia-os
contando-lhes histórias que criava, ou lendo-as nos livros Arco da Velha
e Mil e Uma Noites.
Segundo ouvi de meu Pai, apesar de retraída e introspectiva, era
afável e cordial. Apreciava boas leituras. Tinha boa cultura.
Faleceu em conseqüência do parto, quando foi acometida de pro-
cesso infeccioso puerperal. Na época não existia antibiótico ou outra
medicação eficaz. Seus padecimentos duraram 28 dias.
Após o parto deixou o leito apenas uma vez. Vejo-a, combalida,
sair de seu quarto e andar do corredor até a varanda da cozinha.
Pressentiu a morte e ao meu pai externou preocupações com o
futuro dos filhos, rogando-lhe não descurar-se de educá-los. Disse-lhe
com quem deveriam ficar.
Expôs-lhe suas últimas vontades, inclusive quanto ao seu sepul-
tamento.
Seus pedidos foram atendidos, nada foi questionado.
Apesar da tenra idade, ainda guardo boas lembranças da convivên-
cia que tínhamos. Fui muito apegado a ela. Procurava estar sempre ao
seu lado. Quando seu estado de saúde se agravou, o médico aconselhou
ao meu pai afastar as crianças da casa para que ela tivesse mais tranqui-
lidade.
Meus irmãos foram levados para a casa de meu avô materno, so-
mente eu permaneci no Chalé, ao seu lado.
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Foto 03. Maria de Lourdes, minha mãe, quando criança.
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Foto 03. Maria de Lourdes, minha mãe, quando criança.
Caro Antônio Lantyer. Tomei conhecimento do seu livro, O Chalé, através de Neyde Lantyer, que presumo ser vossa irmã. Li os dois "capítulos" postados na página O Chalé no facebook, lá deixei um comentário com base nos dois textos. Para minha alegria vim conferir o blog e vejo o livro completo disponibilizado. Tão logo leia todo, farei aqui uma resenha do meu prazer de leitor.Grande abraço.
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