Irmãos

Éramos seis irmãos bilaterais (Dete, com oito anos, Demi, sete, 
eu, cinco, Neuza, três, Neyde, dois e Terezinha, com 26 dias) e duas ir- 
mãs unilaterais pelo lado paterno (Áurea e Aurenilda). Mais tarde, com a 
morte da minha mãe, vieram a morar conosco três primos-irmãos, filhos 
de tia Nira (Ivan, Ivone e Ivanir). 
Poucas são as lembranças que guardo desta fase da vida, da convi- 
vência com os irmãos, de nossas brincadeiras ou mesmo de arrelias. 
A primogênita, Dete, era a mais traquina. Narro neste ensejo algu- 
mas de suas peraltices. 
Demi era meu companheiro de brincadeiras; o “sócio nas fazen- 
das” apinhadas de vacas e bois. 
Neuza, branquinha, loira, cabelos cacheados, parecia uma boneca. 
Segundo me disseram, arreliávamo-nos mutuamente. 
Do grupo, Nilda, Neuza e Aurinha já partiram para o além. 
Neyde, quando minha mãe morreu, estava com dois anos. Ainda 
bebê esteve doente. Ficou macérrima. Papai dizia que quando a segurava 
só sentia os ossos. Recuperou-se, engordou, ficou uma “bola”. 
Terezinha, a caçula do grupo, foi criada por uma parenta próxima 
que morava em Itiuba, por isso nosso relacionamento era esporádico. 
Ficou-me na memória sua imagem de recém-nascida e sua saída do Cha- 
lé, nos braços de Pequena (prima carnal de meus pais e sua mãe adotiva) 
e da babá Dudu. Foi levada para Itiuba, cidade vizinha de Queimadas, 
onde moravam seus pais adotivos. Nós a víamos ocasionalmente. 
Todos sofreram a morte de minha Mãe. A separação deixou-nos 
marcas profundas. Os reflexos em nossas vidas foram marcantes. 
Ficamos privados de seu carinho, de sua ternura, de seus ensina- 
mentos, do doce amor de mãe. 
Adaptamo-nos às novas circunstâncias. 
Consciente ou instintivamente procuramos atender aos pedidos 
que ela nos fez no leito de morte. Tornamo-nos cidadãos dignos, trabalhadores, ordeiros, honestos, 
preocupados em bem servir ao País, à sociedade. Todos constituíram 
famílias e transmitiram aos filhos, com o exemplo, as excelentes lições de 
vida recebidas de nossos pais, que, por sua vez, receberam-nas de nossos 
antepassados. 
Soubemos honrar-lhe a memória, trilhando seus conselhos e os en- 
sinamentos. Papai dedicou a vida aos filhos. Algumas vezes lamentava a 
falta que mamãe fazia em nossa educação. 
Tia Nira, Sinha Bela e Mundinha desempenharam papel marcante 
em nossas trajetórias. 
Com as irmãs unilaterais, na época, faltava-nos convivência. Com o 
passar do tempo tornamo-nos amigos. 
(20/10/05) 


_______________________


Foto 05. Primeira comunhão dos irmãos e primos. Atrás: Demi, Ivone (prima) e Antônio. Na frente: Neuza, Neyde e Ivanir (prima).  
Foto 06. Demi e Dete. 

Comentários

Postagens mais visitadas