O Adivinho
“E depois das memórias vem o tempo trazer novo sortimento de memórias, até que,
fatigado, te recuses e não saibas se a vida é ou foi”.
Carlos Drumond de Andrade
In Antologia Poética, sétima edição.
No imaginário popular tudo é possível. Sonho e realidade se con-
fundem. É o reino do fantástico do ilusório.
Era crendice que alguns nascituros choravam no ventre materno e
que, quando isto acontecia, estar-se-ia diante de um ser sobrenatural –
um “adivinho”.
Foi Sinha Bela, excelente cozinheira e exímia contadora de estórias,
quem me transmitiu essa lenda, enriquecendo-a com idéias fantasiosas.
Afirmava que eu chorara no ventre de minha Mãe. Dizia-me que
ela estava no oitavo mês da gravidez e, sentada na sala de jantar, sozinha,
ouvira um vagido que parecia vir de suas entranhas. Não havia ninguém
por perto, logo se concluiu que o autor do vagido fora o nascituro.
Pela lógica ilusória eu seria adivinho! Teria o dom de prever o fu-
turo.
Com isso ganhei prestígio entre irmãos e primos. Quando queriam
saber de alguma cousa por vir, consultavam-me.
Algumas vezes acertei, mas, quando errava, era desmoralizado!
Seria bom se a estória fosse verdadeira.
Mas um dia, por instantes, acreditei que tinha poderes extraordiná-
rios.
Nessa história tive como “parceiro” um morcego.
Sonhei que recebera muito dinheiro, tanto que o bolso de minha
camisa não o comportava.
Ao acordar, quando vestia a camisa, senti o bolso alto e pesado.
Por segundos imaginei estar rico, interpretei o sonho como um avi-
Ao acordar, quando vestia a camisa, senti o bolso alto e pesado.
Por segundos imaginei estar rico, interpretei o sonho como um avi-
so ao predestinado adivinho.
Tudo não passou de um engodo. A dinheirama do sonho transfor-
mou-se em pesadelo.
O meu poder de prestidigitador, não obstante, foi testado e apro-
vado, pois ao tocar no bolso, dele “espirrou” um morcego que passou a
fazer piruetas acima de minha cabeça.
O que era alegria transformou-se em pavor.
O adivinho desmoralizou-se!
Obs.: Para melhor compreender, veja o título “Dinheirama”
(22/5/08)
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Foto 11. Antônio, aos 5 anos.
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