"Pé Duro"

Meu Pai era inteligente, criativo, engenhoso e pertinaz. 
Em leilão realizado pela Inspetoria de Obras Contra a Seca ele arrematou peças avulsas de um velho caminhão com o propósito de remontá-lo e, com o auxílio do mecânico Zé de Patápio, fê-lo com êxito. 
Improvisou a carroceria e a boleia e cognominou-o de “pé duro”, 
que, por algum tempo, funcionou a contento. 
Prestou-nos bons serviços transportando material e gêneros alimentícios do Monteiro a Queimadas. 
Era útil também no deslocamento da família, em viagens de recreio 
ao Monteiro. E foi em uma destas viagens que ele foi abandonado para sempre. 
Lembro-me deste fato. 
Papai levou-nos (minha Mãe e filhos pequenos) ao Sítio São João, 
de sua propriedade, no Monteiro, onde passamos o dia. À tardinha, ao 
retornarmos, o “pé duro” emperrou. Mal rodou cerca de uma légua, 
parou e não houve meios de voltar a funcionar. Foi deixado no acostamento e outro meio de transporte foi providenciado para chegarmos em casa. 
No dia seguinte papai mandou o mecânico tentar consertá-lo. Não 
o conseguiu. As tentativas foram frustradas. O “pé duro” continuou ao 
relento, à margem da estrada, onde se acabou. 
Por muito tempo, quando íamos ao Monteiro, avistávamos “seu 
esqueleto”, que, aos poucos, foi sendo “depenado”. 
Isto deve ter acontecido entre 32/33.


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Foto 19. Caminhão. Fonte: internet.

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