Três Carneirinhos

Éramos crianças. Lá um dia, distante no tempo, três carneiros bonitos, fortes e mansos “apareceram” no pasto contíguo ao Chalé. Eram brancos e lanzudos! 
Papai distribui-os, dando o mais forte e vistoso a meu irmão mais velho, Demi; o segundo, melhor em qualidade, ao primo Ivan. Coube- me o menor, o mais franzino, certamente por ser o menor dos três. 
Disse-nos que os carneiros destinavam-se a servir de montaria e passeios pelas ruas de Queimadas. Para tal mister deu-nos apetrechos feitos sob medida: selas, cabrestos, bridas e estribos. 
Ensinou-nos a domar os animais, a montá-los e pô-los a esquipar. 
Os carneiros eram mansos e dóceis. A aprendizagem foi rápida; dois ou três dias bastaram para os animais se habituarem aos novos donos e às novas atividades. 
Pastavam no quintal do chalé. Tinham tratamento diferenciado de outros animais. Eram banhados, “penteados” e coloridos. A lã branca que os cobria, após o banho, tornava-se azulada. Para conseguir esse efeito punha-se anil na água. Nos dias de carnaval a “indumentária” ganhava coloração diversificada e adereços compatíveis com a festa momesca. 
Além do capim e da ramagem que comiam, recebiam ração especial: milho posto no embornal preso às suas cabeças. Com esses cuidados os carneiros ganharam peso e disposição. 
Na hora dos passeios eram encilhados. Demi e Ivan esquipavam pelas ruas da cidade despertando a atenção e admiração de meninos e adultos. Eu ia atrás, a pé, puxando o carneiro pelo cabresto ou sendo arrastado por ele! 
O meu carneiro, apesar de franzino, era o mais rebelde! Ou o “cavaleiro” seria o mais tímido? Esse comportamento foi motivo de chacotas e arrelias. O medo de cair e do ridículo travava-me. 
Os carneiros tornaram-se atração na cidade. 
Como eu não conseguia esquipar, para fugir às troças, permanecia no quintal ou na frente do Chalé, em vãs tentativas para superar o medo. 
 Um dia tentei montar no carneiro, pus o pé no estribo e dei o impulso para alcançar a sela, ultrapassei-a e esborrachei-me no chão! 
Papai que estava ao lado, disse-me: – “Deus ajudou-lhe demais”. 
Depois desse tombo desisti. 
Demi e Ivan aproveitaram bastante. 
Não sei como e quando, mas os carneiros desapareceram e foram esquecidos!

(28/02/06)  

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Imagem 31. Foto colagem por N. Lantyer

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