Vaidosa

Em Queimadas, na década de 30, as escolas funcionavam em casas adaptadas precariamente para tal mister, não obstante havia uma exceção: a Escola Monsenhor Tapiranga que, para a época, boas eram suas instalações. 

A sala de aula tinha boa luminosidade, era ampla, arejada e estava situada em um bosque. Ocupava parte da casa onde morávamos, o Chalé. Era onde minha Mãe lecionava. 

O mobiliário deixava a desejar, apesar da boa qualidade das carteiras – largas com pés de ferro trabalhados artisticamente – a quantidade não atendia aos cerca de 40 alunos que cursavam entre o 1º e o 5º ano. 

A classe era organizada de acordo com o grau de aprendizagem dos alunos. Os mais novos e menores sentavam-se na frente, próximo à professora. Os maiores e mais adiantados nos estudos ficavam nas últimas filas. 

Na última fila, no fundo, ficava um banco marquesa onde senta-vam os alunos maiores e mais “adiantados”. Voltada para frente, para os alunos, estava a mesa da professora, e por trás, na parede, o quadro-negro. Acima, no centro, estava a efígie do Salvador, com a legenda: “O MESTRE”. 

Os alunos traziam livros, lousas, cadernos, canetas, tinteiros e lápis. 

Alguns traziam tamboretes para sentar. 

Ainda não existia a caneta esferográfica. Usava-se caneta de madeira na qual era encastoada uma pena de metal. Escrevia-se introduzindo a pena no tinteiro (pequeno frasco), molhando-a de tinta. Feito isso estava pronta para ser usada tantas vezes quantas necessárias, desde que se conservasse a pena umedecida de tinta. 

A escola funcionava pela manhã. Às 12 horas os alunos dispersavam-se. 

Dete, minha irmã, era vaidosa, buliçosa e irrequieta. Lá um dia, concluídas as aulas e após a saída dos alunos, aproveitando-se do descuido dos adultos, não perdeu tempo. Sorrateiramente foi à sala de aula, pegou os tinteiros e derramou-os sobre sua cabeça. Transformou-se numa figura surrealista – azul da cabeça aos pés. 

Desfilou faceiramente pela casa até ser notada. A beleza da maquia- 

gem não comoveu Mamãe que a “premiou” com boas palmadas. 

(29/09/05) 

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Foto 32. Minha irmã Dete.