O "Bolo"

Hora do jantar, pais e filhos sentados à mesa na copa, pequena sala com piso de tijolos retangulares, duas janelas e três portas que davam para a cozinha, sala de jantar e despensa. Iluminava-a uma chama pálida, amarelada, esparzida por candeeiro de flandres, tendo como combustível o querosene. 
O candeeiro tinha base circular da qual subia um cilindro que sustentava o depósito de querosene onde ficava a parte maior do pavio de algodão, outra subia até o bocal do candeeiro, de onde se alteava outro cilindro de vidro, o “tubo” que resguardava a chama, propiciando melhor luminosidade. 
O ambiente era sombrio. 
Éramos quatro crianças – Dete, Demi, eu e Neuza (nomeados na ordem decrescente da idade, que variava de dois a seis anos). 
Eu estava com três anos. Já aprendera a falar. 
Servia-se o jantar. Tagarelávamos e brincávamos. 
Iniciei uma brincadeira com meu Pai “medindo força”, trocando “bolos” na palma das mãos. 
Em meio ao divertimento – “bolo” pra lá e pra cá – o peso da mão de meu Pai fez-me sentir dor. 
Por descuido ou distração deu-me um “bolo” forte! “Abri o berreiro”. 
A mão ficou dolorida, mas logo a dor passou com o “bálsamo” do carinho materno. 
Minha Mãe pôs-me no colo, acariciou-me, consolou-me e passou um “pito” no “vencedor”, que se desculpou. 
Nunca mais me atrevi a medir forças! “Gato escaldado, de água fria tem medo”.

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Imagem 34. "O escolar", de Van Gogh.

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