Carro de Ouro



Minha Mãe fazia o possível para atender aos meus caprichos infantis. Um dia prometeu-me um carro, dizendo-me que mandaria comprá-lo em Salvador porque não o encontrara em Queimadas. 
Não aceitei as justificativas, queria-o naquele momento e comecei a choramingar. Gradativamente fui aumentando o tom do “protesto”. 
Misturei choro com gritos. 
O último apelo foi atirar-me ao chão e espernear. Nada aplacava o meu desespero. Quanto mais minha Mãe pedia para me conter, mais gostoso achava chorar e exacerbava o chilique. 
Com a paciência esgotada, minha Mãe exclamou: “Este menino só falta me pedir um carro de ouro!”. 
Mal fechou a boca comecei a gritar: – “Quero um carro de ouro, quero um carro de ouro!” 
Com a repreensão de Papai, contive-me: dos gritos passei aos soluços. O amargor do sal das lágrimas que minavam de meus olhos fez-me, aos poucos, silenciar. 
Aprendi que a vida tem um lado amargo. Nunca alcancei o carro de ouro, sequer o vi no curso da vida! 
O carro de ouro, metaforicamente, pode ser comparado à felicidade, que poucos alcançam. 
Essa história colou-se à minha imagem de tal sorte que, hoje, já velho, de quando em vez, é lembrada entre risos e mofas. 
Certo é que nunca tive nem carro nem ouro, mas a estória ficou na lembrança dos familiares. 
Sim, mais tarde tive um CARRINHO! Só que não era de ouro, era de “flandres”! Ganhei-o de minha carinhosa madrinha Midu. Era um automóvel, e seu “combustível”: a “corda”! 
A novidade fez sucesso! Minha madrinha Midu cativava-me. Presenteava-me com frequência.




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Foto 31. Carro de ouro. Fonte internet.

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