Três Tostões



Em 1935 o padrão monetário brasileiro era o real. Introduzido no Brasil pelos portugueses subsistiu por mais de um século à emancipação política.
Considerando a desvalorização do “réis”, na prática, o padrão era o “mil réis”.
Em 1926 legislou-se, criando nova moeda denominada de “cruzeiro”, que tinha como referencial o sistema métrico decimal. Um cruzeiro dividia-se em centavos. Não obstante ter sido instituído em 1926, somente em 1942 o cruzeiro passou a ter eficácia.
No padrão “mil réis” a cédula de maior valor era a de “conto de réis”, correspondente a um milhão de réis.
A moeda divisionária de menor valor era o tostão, igual a 100 réis. De valor inferior a este existiu o vintém (20 réis), que deixou de circular porque perdeu o valor aquisitivo.
A moeda de 100 réis (tostão) trazia estampada em uma das faces “100 RÉIS”, contornando-a, a legenda “ORDEM E PROGRESSO 15 DE NOVEMBRO DE 1889”. Na outra face estava gravada: “REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL”. No centro de um círculo de estrelas estava a constelação do Cruzeiro do Sul.
Há moedas do mesmo valor cunhadas posteriormente com outros símbolos. Exemplo disso são as que assinalam o centenário da independência do Brasil e as que foram lançadas no final da década de 30, início da de 1940, com a efígie do Presidente Getúlio Vargas.
Moedas de menor tamanho têm significado em minha vida. Lembro-as tristemente. São recordações dolorosas da morte de minha Mãe.
Na época, com cinco anos de idade, não tinha noção do valor da moeda. Para mim um tostão era muito dinheiro. Dava para comprar queimados no armazém de Seu Martinho ou cocada preta feita por Donana de Boa, nossa vizinha.
Minha Mãe prometera-me três tostões. Não sei o que a levou a assumir tal compromisso. Não houve tempo de cumpri-lo; dias após fazê-lo, faleceu, “deixando um débito de três tostões!”.
Falei com Sinha Bela. Ela foi peremptória: “Alguém tem que pagar a dívida para evitar que a alma da devedora fique penando”.
Passado o susto da morte de minha Mãe, narrei a Papai o ocorrido e a “sentença irrecorrível” de Sinha Bela. Ele me ouviu em silêncio. No dia seguinte, ao despertar, encontrei empilhadas sobre a mesinha de cabeceira três moedinhas. Eram os três tostões.
A sentença fora cumprida. A dívida fora saldada. Que fiz eu dos três tostões?

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Imagem 43: A moeda de 100 reis (fonte: internet)

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