Umbuzeiro




É a árvore sagrada do sertão. Sócia fiel das rápidas horas felizes e longos dias amargos dos vaqueiros”.
Euclides da Cunha (in “Os Sertões”)

Umbuzeiro, árvore da caatinga, “amiga” do sertanejo. É, como ele, resistente às consequências nefastas das secas, tolerante aos raios ar- dentes do sol que lhe “tosta a pele” tornando-a ressequida e engelhada.
O tronco do umbuzeiro é áspero e enrugado como crespa e vincada é a pele do sertanejo.
A casca que reveste seu tronco é gretada, desidratada, seca.
Do chão pouco se eleva; sua altura é de cerca de três metros. Cessado o crescimento ele se ramifica, esparrama-se com galhos disformes e retorcidos, formando copas frondosas, ovais ou circulares, projetando sombra que serve de refrigério ao homem e aos animais. Suas folhas são miúdas com a tonalidade de verde claro.
Uma vez por ano, entre os meses de outubro e novembro, flora, cobrindo-se com um “manto branco e rendado” de flores miúdas e brancas como as da laranjeira.
De dezembro a fevereiro as flores transformam-se em frutos.
Como o homem, o umbuzeiro sofre com a falta de chuvas, mesmo assim, no auge da crise, socorre-o, protege-o, abrigando-o dos raios solares, dando-lhe frutos. De suas entranhas, com suas raízes, mitiga-lhe a fome e a sede.
Em meu andar pela caatinga, enquanto criança e jovem, em todos os caminhos por onde passei, encontrei-o. Eram locais de parada, de refrigério, de saborear seus frutos e de regalar-se na sombra de sua copa.
Apesar de sua magnanimidade, o homem despreza-o, não o defende das agressões do meio ambiente e do próprio homem. Ao contrário, concorre para exterminá-lo.
Dentre tantos umbuzeiros que me abrigaram e que me doaram seus frutos, há três dos quais não me esqueço. Tenho-os em minhas lembranças mescladas de saudade e de ternura.
Dois deles estão no quintal do chalé, onde passei a infância e parte da juventude. Com eles “convivi”. São árvores centenárias. “Viram-me” nascer, crescer e envelhecer, e permanecem “novas”, continuam florescendo e produzindo. São umbuzeiros “gêmeos”. Ajustam-se, “entendem- se”. Ocupam o mesmo espaço. Ramificam-se, esgalham-se, abraçam-se e entrelaçam-se harmoniosamente. Não obstante seus troncos e frutos têm formatos com texturas e sabores diferentes.
O outro era o umbuzeiro da cacimba, que ficava à margem da estrada de rodagem, nas proximidades do Monteiro. Seus frutos eram grandes e doces.
A árvore era pequena, menor que o habitual. Cresceu pouco e pouco se esgalhou. Em compensação, seus frutos eram grandes e deliciosos.
Umbuzeiro da cacimba porque em volta de suas raízes cavaram um buraco, deixando-as expostas, fragilizando sua sustentação.
Dessa agressão despropositada adveio-lhe o nome e a debilidade que o fez tombar por falta dos suportes que o atrelassem ao solo de onde captava a seiva que lhe dava vida e sustento.
Um dia, já adulto, voltei ao Monteiro e perguntei pelo “umbuzeiro da cacimba”.
A resposta foi: “O vento derrubou-o!” Em verdade, os homens derrubaram-no!



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Imagem 46: Umbuzeiros gêmeos do Chalé. Acervo da Família Lantyer.
Imagem 47: Umbuzeiro florido. Fonte: Portal O Nordeste, no Facebook.

Comentários

  1. Suas recordações nos enchem de emoção! O umbuzeiro é a árvore sagrada do nosso sertão. Abraços!

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