Uma Estória de Toinho
Criança alegre, vivaz, comunicativa e, às vezes, irreverente. No grupo destacava- se pela inteligência e poder de liderança, qualidades preservadas por toda vida.
Na adolescência demonstrou pendor para as letras, escrevia em prosa e verso. Foi um leitor voraz.
Tinha amor à terra natal.
Em casa contava com a proteção e benevolência da avó que relevava seus malfeitos, enfraquecendo a autoridade paterna.
De certa feita suas traquinagens incomodaram e ao mesmo tempo divertiram pessoas da sociedade local.
Toinho, como o tratavam, não era dado a frequentar a igreja, mas, naquele dia, sem que nem porque, intrometeu-se por entre as beatas. Com a feição “angelical” parecia estar orando. Elas regozijaram, vendo nele uma criança voltada para a fé.
Em verdade, armava-lhes uma cilada!
Passado o primeiro momento, atentas à missa, não lhes deram maior atenção.
Enquanto rezavam, ele, em surdina, com alfinetes, prendia-as pelas saias, umas às outras. Concluído o “trabalho”, sorrateiramente, deixou a igreja e ficou em suas imediações aguardando a “bomba explodir”.
Acabada a missa as beatas, com saias rodadas que se alongavam até o tornozelo, sentiram que algo tolhia-lhes os passos!
Não conseguiam caminhar. A cada passo, mais se entrelaçavam. Estavam aturdidas, olhavam para baixo e para o alto como a implorar um milagre, pois não percebiam o que acontecera.
Passado o momento de estupefação lembraram-se de que Toinho estivera na igreja e logo imaginaram que ele fora o autor da tramóia. O reboliço foi grande. Um grupo de pessoas da sociedade procurou o pai do peralta pedindo-lhe providências.
O riso e a mofa descontraíram o ambiente.
Desta feita a brincadeira mexeu com os brios de pessoas responsáveis. Até o padre reclamou providências ao Coronel. Dada a gravidade da chacota, esperava-se que o castigo fosse severo.
O Coronel, sentado à cabeceira de uma mesa larga e comprida na sala de jantar de sua mansão, feições contrafeitas, mandou chamar o peralta e ordenou-lhe que sentasse.
Toinho temia o castigo!
Em pé, próxima à mesa, atenta ao desenrolar da “sessão” estava sua avó Marcolina, velhinha baixa, cabelos brancos enrodilhados na nuca, feições inspiradoras de harmonia, bondade e determinação.
Era o anjo que iria protegê-lo. Não fora sua presença benfazeja, a reprimenda haveria de ser severa. Permaneceu ao lado do pequeno Toinho, protegendo-o e acalmando o Coronel.
O ambiente era tenso. No ar pairava apreensão. D. Marcolina espreitava, pronta para socorrê-lo.
Após a repreensão e esgotados os conselhos, seu pai, disposto a discipliná-lo, puxou o cinto da calça e pôs-se a correr atrás de Toinho.
O Coronel, em seu encalço, conseguiu segurá-lo pela camisa. Vitória fugaz! Toinho deixou-a em suas mãos e abrigou-se nos braços carinhosos e protetores da avó que implorava clemência, pedindo que o deixassem em paz.
O Coronel consolou-se com o “troféu” – a camisa!
Obs: Toinho era o apelido de Antônio Nonato Marques, tio do autor, irmão de sua mãe.
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Imagem 48 e 49. Fotografias de Lourdinha (mãe do autor) e seu irmão Toinho (acervo das famílias Lantyer / Marques).
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