Carlitos em Queimadas

Em meados da década de 30 projetou-se um filme cujo nome e enredo a memória não preservou, sumiram no escoadouro do esquecimento.
Em Queimadas foi quando se projetou, pela primeira vez, uma fita (assim denominavam o filme).
No salão de reunião da Câmara de Vereadores improvisou-se a sala de projeção, espaçosa, com cinco janelas voltadas para o poente e para a “Praça de Cima” (grande área de terra esturricada e desnivelada) onde afloravam lajedos. Era onde se realizavam as feiras semanais.
A cidade movimentou-se. A projeção foi à tarde. Antes da hora marcada o salão estava lotado.
As pessoas estavam alegres, tagarelas e curiosas para conhecer a novidade.
Como não havia assentos para todos, carregavam-se cadeiras, bancos e caixotes. Quem não os levou sentou-se no chão ou ficou em pé. A cada instante chegavam mais pessoas.
Um lençol branco preso na parede fez às vezes de tela. Fecharam- se as janelas e as portas. 
Intensificou-se o calor. Fez-se a escuridão! Fenderam-na “raios de luz” que se embrenhavam pelas gretas das janelas.
A espera pela projeção impacientou o público. A agitação generalizou-se. Crianças e adultos conversavam aos “berros”. Falava-se, gritava- se, gargalhava-se. A algaravia impedia que se escutasse o que falavam.
Quando o operador começou a por o cinematógrafo a funcionar, fez-se silêncio. A expectativa do que estava por vir fê-los emudecer.
A “geringonça” armada na parte da frente do salão passou a girar a “fita”. Começaram a surgir na “tela” imagens em movimento. Quebrou- se o silêncio, a platéia delirou, gritou, aplaudiu.
O filme era mudo, em preto e branco.
Viam-se na tela grupos de crianças e adultos brigando, lutando,
enquanto outros fugiam em desembalada carreira, vencendo obstáculos e sumindo em ruas estreitas.
As crianças e os jovens acompanhavam o filme com entusiasmo, aos gritos.
Mais tarde, quando assisti a filmes de Charles Chaplin, associei-os àquele que vira na infância.
Terminada a projeção as pessoas pareciam satisfeitas com a novidade.
Aos grupos, conversavam sobre o filme – a fita – cuja trama poucos compreenderam.
O cinema foi, por algum tempo, tema de conversas e discussões.
A projeção foi precária, interrompida a cada instante, mesmo assim, agradou a todos, pois nunca tinham visto coisa igual.
Na época em Queimadas não havia energia elétrica!

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Imagem 62: Fotografia encontrada na internet

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