Novidades no céu das Queimadas


Era noite de lua cheia. Caminhava tranquilamente pela rua deserta quando percebi próximo à minha casa, fachos de variadas tonalidades. Luz intensa e ofuscante.
Perto de mim vi estranho objeto semelhante a um estádio de esportes. Movia-se lentamente. Dele fluía luz de todos os lados. Era uma nave fantástica, gigantesca.
De seu interior saíram seres estranhos. Levitavam! Eram amorfos, ou melhor, polimorfos, porque mutantes (suas formas variavam a cada instante). Às vezes pareciam com seres humanos. Altos, transparentes, cabelos longos, dourados e faiscantes. Seus olhos – se os tinham – ficavam ocultos em órbitas profundas.
Levitaram em círculo observando o ambiente. Comunicavam-se telepaticamente.
Dei-me conta de estar “cercado” por seres de outros mundos.
Eram horrendos, mesmo assim, transmitiam-me tranquilidade.
O terror paralisou-me! Contudo, sem ter para quem apelar, acalmei- me.
Conduziram-me ao interior da nave. A luz “jorrava” de suas paredes, como se fosse água.
Iniciou-se a viagem. A nave ganhou velocidade, desprendeu-se da terra e logo estávamos em um planeta que denominavam de Giliese 876d. Era o nosso destino.
No percurso mostravam-me astros, planetas, satélites e cometas. Era um espetáculo. Vi-os em movimentos sincronizados.
Giliese é um planeta estranho – tem seres vivos inteligentes em seu núcleo sólido. É ai que vivem. É éden, o paraíso.
A crosta, a litosfera, é um imenso deserto onde as temperaturas oscilam entre extremos.
Lá permanecemos algum tempo.
Estava em outra galáxia. Um mundo de grandiosidade e de belezas ímpares. Árvores e animais gigantescos movimentavam-se facilmente. O silêncio era absoluto.
Os “giliesianos” visitam-nos com frequência desejosos de intercâmbio.
Na volta, com um sopro, em poucos segundos, levaram-me à lua, onde São Jorge emprestou-me seu carneirinho. Montei-o e pus-me a observar a Terra. Distrai-me. Logo percebi que caía, rolava em queda livre. A lua ficou para trás. A velocidade era extraordinária. Os “giliesianos” abandonaram-me.
Despertei. Estava deitado no chão frio e úmido de urina.
Corri à janela para certificar-me de onde me encontrava. A lua continuava linda!

O espaço aéreo de Queimadas era dos UFOS, dos pássaros, dos sonhadores e, em épocas festivas, dos foguetes e dos balões.
Na década de 30 Queimadas era uma pequena cidade, sem expressão política ou econômica.
A aviação no Brasil engatinhava. Não obstante, o Governo do Estado, sendo Governador o Tenente Juraci, mandou construir em Queimadas um “Campo de Aviação”, em verdade, uma clareira aberta na caatinga com uma biruta em uma das extremidades, a cerca de 3 quilômetros da cidade.
Era uma inutilidade. Ignora-se, ainda hoje, o que o levou a construí-lo.
Pouco depois era uma capoeira onde animais pastavam. Por muitos anos nenhum avião pousou em terras queimadenses.
Mas, lá um dia, cerca de vinte anos após a derrubada da caatinga, divulgou-se que um avião iria “inaugurá-lo”.
Foi um reboliço. A cidade ficou em polvorosa. Todos os olhos voltavam-se para o céu. Muitos foram às carreiras ao campo e, o que viram, foi animais comendo relva.
A decepção foi do tamanho da expectativa: o teco-teco passou ao largo.
Outros anos se passaram e, lá um dia, inesperadamente, um pequeno avião pousou no campo. Seus passageiros eram políticos catando votos em época de eleição. Isto aconteceu às 8h do dia 16 de dezembro de 1940. (*)
Quem podia andar foi ao campo ver o aviãozinho. Estavam jubilosos. Entusiasmavam-se com a novidade. Alguns acariciaram a carcaça do avião.
No dia seguinte, sob olhares de satisfação, o mono-motor ganhou os céus.
Foi o primeiro avião que vi como o foi para a maioria dos queimadenses. Foi, também, o único que pousou naquele campo.

O céu reservava-nos outra surpresa. Era o ano de 1936.
No céu de Queimadas, com baixa altura, deslizava suavemente um objeto desconhecido dos queimadenses, seu formato lembrava um enorme charuto metálico, bojudo, com pequenas janelas.
Nem de longe podia competir com naves intergaláticas.
Na época eu era criança.
Ocasionalmente, olhando para o céu, deparei-me com aquele estranho objeto reluzente aos raios solares.
Meu Pai disse-me que era um “zepelim” – um balão dirigível – que transportava pessoas e mercadorias.
Zepelim era o nome de uma a espécie de dirigível. O que víramos deveria ser “GRAFF ZEPELIM” que, na época, fazia a linha Alemanha-Brasil com escala em Recife. Seu inventor e aeronauta foi o Conde Von Zepelim.
Passados alguns dias Papai me informou, pesaroso, que em manobras de pouso nas proximidades de Nova Iorque, incendiou-se um dirigível denominado de Hindenburg. Isso aconteceu em 6/5/1937.
Os dirigíveis estiveram em voga por muitos anos, principalmente na Alemanha, mas entraram em declínio após uma série de acidentes. 
O acidente com o Hindenburg marcou o início do ocaso.

(*) Encontrei esta informação em notas feitas por meu Pai, onde ele citava fatos rele- vantes ocorridos em Queimadas e no mundo. É pena que muita coisa desapareceu. 

_____

Imagem 64 : Greff-Zeppelin sobre o Recife. Fonte: internet

Comentários

Postagens mais visitadas